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Guia de Nutrição para crianças (1 a 5 anos)

Depois do período da introdução da alimentação complementar, aquele onde você apresentou de maneira paciente e divertida todas as cores e sabores dos alimentos, pode-se seguir um período onde as crianças começam a recusar alguns alimentos.

O bebê estava comendo bem e de repente, parou de comer. Imediatamente surgem muitas dúvidas, tais como:

– “Meu filho parou de comer! O que eu faço?”

– “Como deve ser o prato do meu filho?”

– “Qual a quantidade adequada? Precisar comer tudo?”

Estas e outras dúvidas serão respondidas por aqui. Aproveite!

“Meu filho parou de comer! O que eu faço?”

Alguns comportamentos alimentares podem surgir na criança e, na maioria das vezes, é característico da fase de desenvolvimento. É preciso lembrar que ela não tem o mesmo apetite em todas as fases. Por isso, devemos considerar a idade e a fase de desenvolvimento em que a criança se encontra.

Primeiro, é importante identificar a causa da recusa alimentar: será que as características da alimentação oferecida estão de acordo com a fase da criança? Pode ser consistência inadequada da refeição, monotonia alimentar, horários não regulares entre sono/escola e alimentação,  alguma infecção ou carências de vitaminas e sais minerais ou mesmo motivos comportamentais, como distúrbios emocionais na criança ou na dinâmica familiar.

No entanto, se todas essas questões foram descartadas, sabemos também que é bastante comum que as crianças, ao final do primeiro e ao longo do segundo ano de vida, diminuam o interesse e a quantidade ingerida dos alimentos, em virtude, principalmente, da diminuição da velocidade do crescimento nessa fase. Então, se o seu filho (a) que comia muito bem até então, parar de comer, não significa que tenha algo errado, mas sim, é um comportamento esperado para idade.

Por isso, não desista! Vamos entender o que pode acontecer.

Entre 1 e 2 anos de idade, a criança substitui o interesse pelo alimento para as demais descobertas ao seu redor e começa a desenvolver habilidades de autonomia para se alimentar. Ele começou a explorar o mundo a sua volta, e isso é normal!

Aos 3 anos de idade, a criança começa a valorizar os aspectos sensoriais do alimento, como cor, forma, consistência. Portanto, agora é hora de investir no relacionamento que a criança tem com os alimentos. Uma boa dica, é sempre inserir a criança no auxílio do preparo das refeições. Eles adoram!

Aos 4 anos, a criança já começa a demonstrar interesse em participar do processo de preparação dos alimentos por conta própria e da dinâmica familiar no momento da alimentação e, aos 5 anos, há uma melhora no apetite que se acentua próximo aos 8 anos de idade.

Apesar da culpa e da frustração que envolve o cenário familiar e, principalmente as mães, por preparar a refeição e a criança não se alimentar, é importante estar atenta a estas fases e respeitar o interesse da criança. Entender isso, faz com que a família não se culpe e respeite os processos de crescimento e desenvolvimento.

Também não se esqueça de que a criança possui mecanismos de saciedade que determinam a quantidade de alimentos de que ela necessita, por isso, deve ser permitido o seu controle de ingestão. Enquanto ela tiver fome, ela irá comer! Fique tranquilo!

É preciso manter a calma e entender estes sinais. A criança está chorando, fazendo birra porque não quer aceitar a comida que você está oferecendo? Tente outra abordagem, deixe-a comer sozinha. Funcionou? Ótimo! Não funcionou? Calma, a criança pode ainda não estar pronta para esta fase.

Mas afinal, quando devo me preocupar?

Após a queixa dos pais de que o filho não come, é preciso avaliar como está o ganho de peso da criança. Rotineiramente, é muito comum encontrar que a criança está com o peso ideal para a idade, demonstrando, portanto, que a criança está com um crescimento e desenvolvimento normal, e que a inapetência irá melhorar com o decorrer da idade.

Agora, se a evolução do peso em relação a altura for menor do que o esperado nas curvas de crescimento, e isso o pediatra consegue avaliar muito bem, é preciso ficar atento e buscar orientação profissional, para diagnosticar as possíveis causas. Existe tratamento e complementos alimentares adequados para a criança, quando necessários.

Por isso, a regra de outro é: mantenha a calma e tenha paciência e lembre-se que o apetite da criança irá voltar.

Atitudes como forçar a criança a comer, insistir na quantidade que ela deve comer, gerar um ambiente de recompensas só irá reforçar um comportamento inadequado para a criança e um instinto de repulsa pelos alimentos.

Você também pode tentar algumas das dicas abaixo:

  • Propiciar um ambiente calmo e tranquilo na hora da refeição;
  • Diminuir a expectativa, colocando pouca quantidade no prato e oferecendo mais se a criança demonstrar interesse;
  • Ter horários fixos para as refeições.
  • Não oferecer nada entre os intervalos, evitando beliscos neste período;
  • Oferecer o alimento mesmo que a criança recuse, pois a recusa não significa que ela não goste.

Posso oferecer líquidos durante as refeições?

A Sociedade Brasileira de Pediatria orienta que a oferta de líquidos nos horários das refeições deve ser controlada porque o suco, a água e, podem distender o estômago e dar o estímulo de saciedade precocemente. O ideal é oferecê-los após a refeição e, de preferência, água.

E os sucos?

Os sucos devem ser limitados:  a quantidade máxima é de 120 mL/dia, para crianças de 1 a 3 anos e de 175mL/dia, para crianças de 4 a 6 anos.

Posso oferecer sobremesa?

A sobremesa, quando incluída, deve ser oferecida como mais uma preparação da refeição, evitando utilizá-la como recompensa mediante o consumo dos demais alimentos. Sempre prefira que a sobremesa seja uma fruta.

Como montar um pratinho?

Para montar o pratinho do(a) seu(ua) filho(a) você deve incluir o número de porções diárias recomendadas (descritas na tabela abaixo), de acordo com a faixa etária e por grupo da Pirâmide Alimentar (Figura 1.)

Figura 1. Pirâmide alimentar para crianças.

Fonte: Adaptado de: Philippi et al., 1999 e Guia alimentar para crianças menores de 2 anos, Ministério da Saúde, 2005.

Para te ajudar, listamos a quantidade de alimentos equivalente a 1 porção em medidas caseiras para crianças de 1 a 3 anos. Acima dessa idade, é só dobrar as quantidades.

Grupo Pães e Cereais

  • Arroz Branco cozido: 2 colheres de sopa
  • Batata cozida: 1½ colher de servir ou 1 unidade pequena
  • Macarrão: 2 colheres de sopa
  • Pão francês: ½ unidade
  • Pão de forma: 1 unidade
  • Farinha mandioca: 1½ colher de sopa

Grupo de Verduras e Legumes

  • Legumes cozidos: 1 colher de sopa picado
  • Legumes crus: 1 a 2 colheres de sopa
  • Verdura (folhas cruas): 3 médias/ 6 pequenas
  • Verdura (folhas cozidas/refogadas): 1 colher de sopa

Grupo das Frutas

  • Banana nanica: ½ unidade
  • Mamão papaia: ½ unidade pequena
  • Maçã média: ½ unidade
  • Suco de laranja: ½ copo de requeijão
  • Goiaba: ½ unidade pequena
  • Laranja: 1 unidade pequena

Grupo das Leguminosas

  • Feijão cozido (grãos): 1 colher de sopa
  • Lentilha cozida: 1 colher de sopa rasa
  • Ervilha cozida: 1 colher de sopa
  • Grão de bico: 1 colher de sopa

Grupo das Carnes e ovos

  • Carne de boi cozido/refogado/grelhado: 2 colheres de sopa rasas ou ½ bife pequeno (35g)
  • Carne de frango cozido/grelhado: ½ sobrecoxa ou 1 filé pequeno (35g)
  • Carne de peixe cozido/grelhado/refogado: 1 posta pequena (65g)
  • Ovo Cozido: 1 unidade
  • Ovo frito na água: ½ unidade
  • Bife de fígado: ½ bife pequeno (35g)

Grupo do Leite e derivados

  • Leite: 1 xícara de chá
  • Iogurte natural: 1 pote (120g)
  • Queijo muçarela: 3 fatias (45g)
  • Queijo minas: 2 fatias (50g)

Grupo dos Óleos e gorduras

  • Azeite de oliva ou óleo vegetal: 1 colher de sobremesa (4g)
  • Manteiga ou margarina: 1 colher de sobremesa (5g)

Grupo dos Açúcares (após 2 anos de idade)

  • Açúcar refinado: 1 colher de sopa (14g)
  • Açúcar mascavo: 1 colher de sopa (18g)
  • Geleia: 2 colheres de sobremesa (23g)

Vamos colocar em prática! Olha esse exemplo de cardápio.

Vale a pena lembrar, mais uma vez, que essas quantidades servem apenas para a família ter alguma referência e não dever ser seguidas de forma rígida e controladora. Por isso, devemos sempre respeitar as características individuais de cada criança.

E para variar esse cardápio tem receitas de muffins e chips para oferecer hortaliças até na hora do lanche!!! De sobremesa um cookie que as crianças vão amar misturar a massa!

 Muffins integrais de legumes (Idade recomendada: acima de um ano)

1 cenoura pequena ralada
1 xícara (chá) de farinha de farinha de aveia
1 xícara (chá) de farinha de amêndoas
½ xícara (chá) de queijo parmesão ralado (separa um pouco para salpicar no final)
1 colher (sobremesa) de fermento em pó
100ml de óleo vegetal
100ml de leite da sua preferência
2 ovos
1 colher (chá) de orégano
Sal à gosto
Chia (opcional)

Modo de preparo: Misture os ingredientes líquidos em uma vasilha. E os ingredientes secos em outra vasilha. Adicione os líquidos na mistura seca. Não trabalhe demais a massa. Adicioe um pouco de orégano e uma pitada de sal. Coloque nas forminhas próprias para muffins ou cupcakes e salpique o queijo ralado e a chia. Asse em forno 200º C, préaquecido, por cerca de 20 a 25 minutos, ou até que estejam dourados.

Dica: Você pode acrescentar os vegetais que tiver em casa, como: abobrinha, brócolis, couve-flor ou espinafre. Uma ótima maneira de agregar mais vitaminas e minerais nos lanchinhos dos pequenos.

Chips de couve manteiga (Idade recomendada: acima de um ano)

1 maço de couve manteiga orgânica
1 colher (sopa) de azeite de oliva
1 colher (sopa) de Nutritional yeast (opcional)
Sal à gosto

Modo de preparo: Retire o talo da couve e higienize bem. Seque com auxílio de centrífuga ou papel toalha. Rasgue as folhas em uma vasilha. Acrescente o azeite, o Nutritional yeast e o sal. Misture bem. Disponha as folhas rasgadas, lado a lado “fritadeira sem óleo” a 160°C por 10 minutos, depois vire as folhas e deixe mais 5 minutos.  Se for assar no forno convencional, deixe 20 minutos a 160°C, vire as folhas e deixe mais 10 minutos. Sirva em seguida.

Dica: Você pode picar a couve manteiga em tirinhas bem fininhas, temperar, e assar da mesma maneira. Assim, terá chips tipo cabelinho de anjo. Fica legal acrescentar na sopa ou na saladinha.

Cookies de aveia com cacau (Idade recomendada: acima de dois anos)

1 ovo
½ xícara (chá) de açúcar mascavo
½ xícara (chá) de óleo vegetal ou manteiga
½ xícara (chá) de cacau em pó
1 colher (chá) de essência de baunilha
1 xícara (chá) de farelo de aveia
¾ de xícara (chá) de farinha de arroz ou de farinha de aveia
1 colher (chá) de fermento em pó

Modo de preparo: Misture o ovo, o açúcar mascavo e o óleo ou manteiga dentro de um bowl grande. Acrescente o cacau, a baunilha e misture bem. Agora acrescente a aveia, a farinha e o fermento em pó. Mexa até obter uma mistura homogênea. Com o auxílio de uma colher, coloque as porções de massa em um tabuleiro untado. Faça bolinhas pequenas e coloque-as com uma distância grande, porque quando o cookie começar a assar ele espalha, então se estiverem muito juntinhos, eles irão grudar. Leve ao forno, preaquecido, a 180oC por aproximadamente 15 a 20 minutos. Quando você tirar do forno, eles vão parecer moles ainda, mas é só deixar esfriar que com o tempo ficam sequinhos e crocantes.

 

Agradecimentos

Obrigada a Vivi @vivianelzsimomura e a Ju @juwatanabe nutricionistas, que assim como eu, acreditam que quanto mais clara e simples forem as recomendações, mais fácil fica praticar uma alimentação saudável.

Um beijo,

Dra Carol Pimentel

Publicado por Dra. Ana Escobar
Dra. Ana Escobar (CRM 48084 | RQE 88268) é médica pediatra formada pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), pela qual também obteve Doutorado e Livre Docência no Departamento de Pediatria.

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