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Autismo: esclareça suas dúvidas

O TEA, ou Transtorno do Espectro Autista, tem aumentado sua incidência nos dias atuais. As pessoas estão mais atentas, fazemos mais diagnósticos e o número de crianças com TEA está, de fato, maior. Por isso essa é uma preocupação frequente dos pais. Quando suspeitar de autismo em uma criança, sem pecar pelo exagero e sem deixar passar sintomas importantes? Vamos esclarecer suas principais dúvidas.

O que é o TEA?

O TEA – Transtorno do Espectro Autista – engloba uma série de situações clinicamente distintas que fazem parte de um complexo universo onde as pessoas apresentam determinadas características que as limitam de um contato sócio emocional padrão. As crianças, desde cedo, tem dificuldade em focar o olho no olho e o contato e a interação sociais são mais dificultosos.

Quais as causas do autismo?

Não há uma causa definida ou específica para o autismo. Acredita-se ser o resultado de interação entre os genes e o ambiente. Cada pessoa tem uma arquitetura genética única. Cada pessoa está submetida, desde a vida intrauterina, a influências ambientais únicas. A interação destes fatores únicos, individuais e muito próprios e específicos de cada um pode resultar no autismo. Fato é que não se sabe exatamente o que determina o TEA em crianças. 

Como saber se meu filho tem autismo?

Desde cedo, os bebês de até 6 meses já podem demonstrar os sinais do autismo.

Os sinais de alerta mais relevantes, como abaixo exposto no Manual de Orientação para TEA elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, são os seguintes:

– Até os 6 meses: poucas expressões faciais, baixo contato ocular, ausência de sorriso social e baixo engajamento sociocomunicativo. Mais relevante nesta idade: os bebês não focam nos olhos dos pais. Desviam o olhar e ficam como que se estivessem lá longe. 

– Até os 9 meses: não faz troca comunicativa; não balbucia sílabas; não olha quando chamado; não olha quando o adulto aponta; imitação pouca ou ausente. Parece que a criança não está neste mundo e sim divagando por aí.

– Até os 12 meses: não apresenta gestos convencionais (dar “tchau”, por exemplo); não fala duas sílabas juntas; ausência de atenção compartilhada. 

ATENÇÃO!

Importante saber: estes sinais NÃO são sinônimo de diagnóstico de TEA. Nada disso. Esses sinais devem chamar a atenção de pais e cuidadores e quem pode fazer o diagnóstico é uma equipe especializada.

Quem devo procurar se meu filho apresentar um destes sinais?

A primeira pessoa deve ser o pediatra. Converse e exponha suas preocupações. Se julgar necessário, o pediatra pode encaminhar para uma equipe de especialistas que podem definir o diagnóstico. 

Existe um exame laboratorial ou de imagem que diagnostica autismo?

NÃO. É importante saber isso. NÃO há um exame laboratorial ou de imagem específico para o TEA. Nem exames genéticos são hoje definitivos e indicados de rotina.

Como saber então se meu filho tem autismo?

Existem escalas – ou questionários- que devem ser preenchidos pelos pais. Com base no resultado destes questionários, os especialistas podem definir se a criança tem TEA ou não. 

O diagnóstico, portanto, é embasado em escalas internacionalmente validadas que devem ser aplicadas por especialistas da área.

Quem são os especialistas?

A equipe pode ser composta por neuropediatra, psicólogos, psiquiatras, geneticista, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, nutricionista ou educador físico. Alguns cuidam do diagnóstico e outros cuidam do tratamento. Não é necessário ter TODOS estes especialistas. Cada criança é uma e individualmente cada uma pode ter necessidade maior de um especialista.

Meu filho está demorando para falar. Será que ele tem autismo?

Calma. Muita calma nesta hora. Muitas crianças começam a falar uma sílaba por volta de 1 ano de idade. Até os dois anos, vão juntando 2,3 sílabas e na sequência começam a fazer frases curtas. No entanto, algumas crianças só soltam mesmo a língua para falar depois de 2 anos e meio. Por isso, fiquem atentos e procurem avaliar duas situações, se seu filho está demorando um pouco para falar:

  1. Ele ouve bem? Crianças que não escutam bem demoram para aprender a falar. Veja e investigue isso.
  2. Ele tem algum outro sinal associado ao “atraso” na fala? Ele tem bom contato social, brinca com outras crianças? 

As crianças devem ser avaliadas globalmente para a suspeita de TEA e não apenas por um parâmetro. Por isso, muita calma. Só um parâmetro não faz nem suspeita nem diagnóstico de TEA.

Crianças com autismo são mais sensíveis a sons, barulhos e outros estímulos?

SIM.

Crianças com TEA podem ter algumas características marcantes e individuais nos seguintes setores:

– Sensibilidade auditiva. As crianças não gostam de sons altos ou barulhos. Colocam as mãos nos ouvidos e ficam visivelmente incomodadas.

– Sensibilidade gustativa ou olfativa. Muitas crianças com TEA gostam apenas de alguns e dos mesmos sabores e recusam outros diferentes. O cheiro de alguns alimentos também as incomoda bastante.

– Sensibilidade visual. Não gostam de luz nos olhos e ficam visivelmente irritados com a luminosidade.

– Sensibilidade ao movimento. Não gostam de ser levantadas do chão. Gostam de ficar com os pés no chão, mas não gostam de pisar descalços na grama ou na areia. Não gostam do contato físico com outras pessoas.

Não se importam em ficar com mãos e roupas sujas, as roupas podem ficar “emboladas” no corpo sem que eles se incomodem. Às vezes parecem não escutar quando são chamados, ou parecem não ouvir o que lhes é dito, mesmo quando a audição está perfeita. 

É verdade que crianças com TEA gostam de brincar com objetos fazendo movimentos repetitivos?

SIM. 

É verdade. Algumas crianças brincam sempre do mesmo jeito. Gostam de movimentos repetitivos como, por exemplo, ficar virando as rodas de um carrinho.

Existem outras situações associadas ao TEA?

SIM. É o que chamamos de comorbidades associadas. Estas comorbidades associadas ao TEA  devem ser identificadas. São elas: transtornos de ansiedade, ansiedade de separação, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), tiques motores, episódios depressivos e comportamentos auto lesivos, transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, deficiência intelectual, déficit de linguagem, alterações sensoriais, doenças genéticas, transtornos gastrointestinais, distúrbios neurológicos como epilepsia e distúrbios do sono e comprometimento motor. 

Como deve ser o tratamento do TEA?

Cada criança com TEA tem suas próprias especificidades. Por isso, cada criança deve ter seu tratamento individualizado e delineado pelo pediatra e pelos especialistas. O pediatra deve organizar as intervenções e esclarecer a família sobre cada etapa da terapêutica.

A família deve participar ativamente das decisões e do processo terapêutico. Todos juntos, para que a criança obtenha o melhor de sua potencialidade. 

Existe um tipo de terapia para o TEA que se chama cognitivo comportamental. A terapia cognitivo comportamental baseada em ABA tem apresentado muitos bons resultados no TEA. 

Há algum remédio específico para autismo?

NÃO. Algumas medicações podem ser indicadas para as comorbidades associadas ao autismo.

Autismo tem cura?

NÃO. Não tem cura. Mas as pessoas que recebem tratamento começam a apresentar melhora importante dos sintomas

Há uma época certa para começar o tratamento?

SIM. O mais cedo possível. Isso é importante pois o cérebro das crianças de até 2 anos não se formou ainda. Se interviermos antes, podemos criar novas ligações nos neurônios e isso pode ser muito importante para garantir às crianças maior possibilidade de aquisições e habilidades.

Por isso o diagnóstico precoce é tão importante.

Há terapias alternativas para o autismo?

SIM.

O mundo hoje oferece uma série de terapias alternativas como, por exemplo, eliminar o glúten, caseína ou outros nutrientes da alimentação. Só que nenhum estudo ainda teve eficiência cientificamente comprovada. 

Dar ômega 3 ou probióticos: também sem evidências científicas suficientes para indicar.

Já se tentou também o canabidiol, que é uma fração da maconha, também sem resultados positivos.

Cada criança com TEA tem suas especificidades únicas e necessidades próprias. O diagnóstico precoce, sem medos ou preconceitos, ajuda infinitamente. Fique informado e participe das decisões terapêuticas junto com a equipe que cuida do seu filho.

Publicado por Dra. Ana Escobar
Dra. Ana Escobar (CRM 48084 | RQE 88268) é médica pediatra formada pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), pela qual também obteve Doutorado e Livre Docência no Departamento de Pediatria.

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