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Pós-parto: quando é hora de pedir ajuda?

Atualmente, as mulheres são bastante livres. Muitas, nunca precisaram da ajuda dos pais ou parentes ou vizinhos para nada. Ganham seu dinheiro e resolvem seus problemas. Se você se encaixa na mulher descrita anteriormente, tenho algo para conversar com você: frequentemente o pós-parto será o primeiro momento da sua vida em que você perceberá que precisa de ajuda, que sozinha é muito difícil!

Assim ainda acontece em muitas sociedades: quando nasce um bebê numa tribo indígena, todas as mulheres da oca se mobilizam. A mãe está cercada de cuidados e apoio. Em várias regiões do mundo a avó, a bisavó, as tias ou a prima cercam a mãe de cuidado.  Nas comunidades carentes, as vizinhas ou a tia que mora na laje de cima se encarregam de ajudar. Nas famílias mais ricas também há muitas pessoas disponíveis para ajudar. Mas…e na classe média urbana? A correria e o estilo de vida de todos impedem que as mães no pós parto sejam devidamente cuidadas por amigos ou familiares.

Ou seja: estamos vivendo um fenômeno social que se caracteriza pelo fato de que apenas as mulheres da classe média urbana não têm ajuda e são levadas a acreditar que precisam conseguir fazer tudo sozinhas! A avó está trabalhando em tempo integral. O pai só tem cinco dias de licença. A vizinha do apartamento de cima não só não ajuda, como sequer conhece, e ainda reclama do choro noturno. Empregada, parece luxo.

Resultado: no final da primeira semana, a mulher percebe que um bebê demanda demais. Precisa de atenção 24 horas, permanentemente. Percebe também que os intervalos do sono não são suficientes para que ela descanse, almoce, tome um banho, respire, olhe pela janela, durma meia hora, atenda ao telefone ou responda a um e-mail, por exemplo.

Cuidar de um bebê exige, na maioria das vezes, duas pessoas. Sem ajuda, é virtualmente impossível. A amamentação facilita muito o cuidado, já que não é preciso cuidar de mamadeiras, latas, esterilizadores e bicos. Mas é preciso tempo e descanso para produzir leite. É o clássico bordão, muitas vezes ignorado: um bebê só ficará bem se sua mãe estiver bem. A mãe, como qualquer indivíduo, precisa descansar, se cuidar, relaxar, pensar em outras coisas. Ela precisa desses momentos como o bebê precisa do seu leite.

Por isso, é preciso que tenhamos menos onipotência, e que reconheçamos que vamos, sim, precisar de ajuda. Do pai, da avó, da babá ou da empregada. Toda ajuda respeitosa – de alguém que não fique te criticando o tempo todo – é bem-vinda, sim!

Publicado por Dra Adriana Grandesso Pompeo de Camargo.
Doutora Adriana Grandesso Pompeo de Camargo (CRM 115.771-SP) é médica graduada pela Unicamp. Obteve Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia, em 2007, pela Unicamp.

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