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Marco o parto cesáreo ou espero o parto normal?

Quando a gravidez chega no final, mesmo quem quer ter o parto mais normal do mundo consegue entender as comodidades de marcar a cirurgia cesariana. Barriga pesada, dor nas costas, dor nas pernas, insônia, roupas que não cabem, calor… os desconfortos físicos podem ser tantos que dá mesmo vontade de marcar data para acabar. Sem falar na ansiedade do parto desconhecido, o medo da dor, a curiosidade para ver a carinha do bebê e todos os mitos que rondam o fim de uma gravidez.

Aguardar o parto normal é mesmo uma experiência com a qual nós não estamos mais acostumadas: tudo tem hora certa, nossa vida é previsível, estamos viciadas em ter controle de tudo.  Aguardar o parto normal é aguardar o tempo do outro. É aguardar o tempo da natureza. É suportar o desconforto de não termos controle, de lembrar que somos animais, como qualquer outro mamífero. É se entregar para essa espera, a mais linda e profunda espera, de respeito pelo tempo do outro. Aguardar para descobrir o que está reservado para nós.

Se o bebê vai nascer de parto normal ou cesariana… não sabemos. Vai depender da evolução do seu corpo, da adaptação do bebê às contrações e do profissional que está te acompanhando.

Esperar a maturidade plena do bebê, para que ele esteja no tempo ótimo para nascer (entre 39 e 41 semanas); esperar que a “conversa” hormonal entre substâncias produzidas por ele e por você ocorra e te faça entrar em trabalho de parto. Temos que aguardar o bebê nos dizer que chegou a hora. Estas “esperas” são essenciais, difíceis, mas podem ser consideradas atos de amor.

Marcar a cirurgia cesariana antes de 39 semanas aumenta a chance de o bebê apresentar desconforto respiratório pois o pulmão dele pode ainda não estar “maduro”. Às vezes até precisam ficar em observação ou na UTI. Lugar de bebê é no colo da mãe e no seio da sua família. Em 2016, o Conselho Federal de Medicina estabeleceu uma resolução que proíbe o agendamento de cesárea eletiva antes de 39 semanas (Resolução 2.144/2016). Vamos reservar as máquinas da UTI neonatal para os que precisam e fazer a nossa parte para evitar que o nosso bebê vá parar lá devido a nossa pressa e ansiedade.

Aliás, quando se tem filhos pequenos, essa espera é só a primeira de muitas que ainda virão – esperá-los comer, vestir o sapato, escovar os dentinhos…e tantas outras esperas… vamos já treinando!!!

Publicado por Dra Adriana Grandesso Pompeo de Camargo.
Doutora Adriana Grandesso Pompeo de Camargo (CRM 115.771-SP) é médica graduada pela Unicamp. Obteve Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia, em 2007, pela Unicamp.

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